Os nossos limites são os limites do mundo
Na sua frente, situa-se um enorme e suntuoso portão. Ele é a entrada para um misterioso castelo, no qual - conforme você ouve dizer por aí - há pessoas, coisas e lugares excêntricos.
"Dentro dele, há ameaças", sussurra em seu ouvido um homem que observava de longe o castelo. "Saiba que o sofrimento é como um fantasma que agita os corredores: um perigo imprevisível e constante."
E quando você tira os olhos daquele observador, finalmente nota que, com as mãos na maçaneta do portão, há um segurança. Ele, com um sorriso, sincero entusiasmo e ares de esperança, olha fundo em seus olhos e pergunta:
-Deseja entrar?
A curiosidade acelera as batidas do seu coração. O que de fato encontraria quando passasse por este enorme portão?
Mas a voz do homem que observava o castelo ressoa em seus ouvidos: "por lá, há ameaça; perigo; sofrimento."
O medo, então, te invade. Luta contra a sua curiosidade e a sufoca.
"Não", responde você ao segurança com um tom de indiferença. Depois disso, vira as coisas e sai andando, chutando as pedras no caminho.
Ao chegar em casa, sua mãe te pergunta como foi o dia. Você lhe conta tudo. E ela diz, intrigada:
-Mas porque você deu mais ouvidos às palavras do homem que observava o castelo do que ao sorriso do segurança que o protegia? Provavelmente, o segurança sabia muito mais sobre o que há além daquele portão.
Você dá de ombros. Afinal, agora já era. E é assim, de forma sem graça, que termina o seu dia (ou a sua vida). Nem melhor, nem pior. Cômoda e só.
Entendeu agora por que somos tão cômodos?
Insensíveis, damos mais atenção às vozes alheias que nos proporcionam conforto do que às evidências sinceras que nos desafiam. As nossas escolhas, em boa medida, são frutos da influência que permitimos que certas pessoas exerçam sobre as nossas vidas, seja como uma referência – positiva ou negativa–; seja como um conselheiro.
Influenciados, deixamos que o medo do desconhecido nos domine. E o medo, quando se alia ao comodismo – ou, em outras palavras, àquela famosa "preguiça de sair do lugar"-, sepulta toda a nossa curiosidade. Essa poderia nos levar a conhecer castelos incríveis: proporcionando novas experiências e desenvolvendo a nossa sabedoria.
A grande questão não são as situações e as pessoas que se apresentam a nós, mas sim como lidamos com elas. Afinal, absolutamente tudo o que vivenciamos passa pelo filtro do nosso eu- do nosso conhecimento, do nosso emocional e das nossas habilidades. Por isso, precisamos dedicar tempo para conhecermos as nossas vontades mais profundas e os nossos medos. Afinal,
Os nossos limites se tornam os limites do mundo.
Pensei em colocar que se tornam os limites do "nosso" mundo. Entretanto, penso que todas as mudanças e transformações coletivas são frutos ou, ao menos, tem início com transformações individuais. O impacto do nosso comodismo é, enfim, imensurável.