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O brilho que decora o nosso entorno


Aquele vento forte e úmido acariciava a minha pele e balançava os meus cabelos. Transmitia-me o constante movimento que sempre leva os instantes, mas me faz perceber que estou viva e que não há como escapar da efemeridade do corpo que me compõe. Meus olhos faiscavam um fogo ardente que mantinha a minha curiosidade tão viva quanto o brilho intenso dos astros que decoravam o meu entorno. Estava no alto de uma montanha, pela primeira vez sozinha, a contemplar os céus.

Percebi que a enorme trava de poeira que denegria a minha cosmovisão, deixando-me praticamente cega, não estava mais ali. Curti um pouco a solidão, tão rara em um dia a dia urbano que me invade e exige quase todo o meu ser.

Gradativamente, comecei a ouvir passos na neve. Virei-me, e vi um homem velho e saudável contemplando o brilho dos céus, com os olhos arregalados e encantados como os meus. Senti uma profunda empatia, como se o nosso encanto nos unisse em toda essa nuvem de magia.

-Ei!! - gritei, e acenei para que ele chegasse mais perto.

-O que faz uma moça estar aqui, sozinha, em meio a vastidão dos céus?

Era um homem carismático. Respondi, então:

- Sinto que perdi a vastidão do meu ser. A verdade é que curto aventuras, e precisava de uma para encontrar a chama que tem se apagado em mim.

- E o que a tem apagado? Ah... desculpe-me a indelicadeza, qual é o seu nome?

- Luma... meu nome é Luma.

Olhei para baixo por alguns instantes. Suspirei, e as palavras saltaram de minhas profundezas, ignorando a pergunta anterior:

- Quando está aqui, inundado na natureza que lá embaixo se esconde, o que pensa que, de fato, existir significa?

Um leve sorriso se formou em seu rosto. Levantou cheio de energia, se abaixou, e pegou um pouco de neve nas mãos. Jogou bruscamente uma bola de neve no meu rosto, me dando um tremendo susto, e disse:

- Existir é surpreender-se.

Eu involuntariamente comecei a rir e, me vendo sorrir, ele riu em sintonia. Ainda estava meio sem graça por não o conhecer. Sua expressão serena, entretanto, ia me fazendo deixar aquilo de lado, afinal, comunicar-se é algo tão inerente à condição humana. Ele, então, continuou:

- Quem não mais se surpreende, não nutre a curiosidade e o espanto que a existência nos desperta. Arranquei um sorriso seu ao te surpreender: isso compõe o amor, que é o elemento mais precioso impresso no que somos. É a coisa mais natural que há no ser humano... Amar é descobrir que a sua natureza pode brilhar como as estrelas e encantar como as flores; descobrir que você é parte dessa criação e deve buscar reproduzir tamanha perfeição! O amor e a surpresa, juntos, constroem a felicidade mais sincera e nos envolvem no mistério da existência.

- Muito poético! Mas... isso parece tão sensato e envolvente aqui em cima. Lá embaixo não parece ser bem assim... O que tem apagado tudo isso?

- O medo. Ele, e não o dinheiro, é a raiz de todos os males. Medo da solidão, medo da rejeição, medo da mudança, medo do desconhecido, medo da não inserção, medo de si... medo. Ocupa as fendas onde a perplexidade e o encanto que nos faz querer ir mais fundo no que somos deveria estar. E você, do que tem medo?


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