A música Where Is The Love; discriminação e terrorismo no século XXI
A música “Where Is The Love?” foi composta pela banda The Black Eyed Peas, tendo sido lançada em junho de 2003. O grupo, nessa época, era composto por Will.I.Am, Apl.de.ap, Taboo e Fergie.
O tema principal que permeia toda a letra da música é o pacifismo, sendo o posicionamento anti-guerras a principal ideologia que tende a ser transmitida. Dentro dessa temática, múltiplos problemas do mundo são abordados, como o terrorismo, a hipocrisia do governo, a xenofobia, o racismo, as guerras, a intolerância, a manipulação e a cobiça.
A música foi lançada em junho de 2003, sendo seus compositores americanos. No dia 20 de março desse mesmo ano, uma coalização militar multinacional liderada pelos Estados Unidos, que na época era governado por George W. Bush, invadiu o Iraque, iniciando a Segunda Guerra do Golfo. O argumento utilizado para iniciar a guerra foi de que o Iraque estava desenvolvendo armas de destruição maciça, circunstância que significava uma ameaça à segurança mundial. Porém, estas nunca foram encontradas. Junto a isso, o fato dessa região ser rica em Petróleo e, por isso, fomentar até hoje significativos interesses econômicos, fez com que esse argumento se tornasse extremamente duvidoso. A charge abaixo satiriza essa questão:
Além disso, o ataque às torres gêmeas, em 2001, impactou e fez ascender inúmeras discussões acerca do terrorismo.
Graças ao contexto em que foi publicado, explicado anteriormente, os compositores procuram transparecer um posicionamento que não coloca a sua própria nação como superior, mas sim procura enxergar os fenômenos de modo realista:
"Estrangeiro, sim, nós tentamos parar o terrorismo
Mas nós ainda temos terroristas vivendo aqui
Nos Estados Unidos, a grande CIA
"O Bloods" e "O Crips" e a "KK"
Mas se você somente tiver amor pela sua própria raça
Então você apenas deixa espaço para a discriminação."
É possível perceber, desse modo, que eles se mostram contra atitudes terroristas sejam elas por parte de quem for, até mesmo de sua própria nação, que atuava de maneira condenável na época no ponto de vista da banda. Os seguintes trechos traçam a Guerra do Iraque, que estava em curso, de maneira mais explícita:
"Tomando decisões erradas, apenas visando seus lucros
Não respeitando o próximo, negando seu irmão
A guerra está acontecendo, mas as razões são secretas
A verdade é mantida em segredo."
O interessante é que no videoclipe da música a multiculturalidade se faz marcadamente presente. Crianças de várias nações aparecem e os próprios cantores são de raças diferentes (dois são negros e dois são brancos). Sendo assim, a mensagem principal de amor, combate à discriminação e à guerra por todos os indivíduos, independentemente da cultura, é evidente.
A intensificação do preconceito e da xenofobia, que apesar de maquiados são presentes na contemporaneidade, é responsável por propiciar tantos atos violentos e segregacionistas. As guerras muitas vezes englobam, além desses dois elementos, questões políticas e econômicas. Porém, quando o povo compartilha um sentimento preconceituoso, em muitos casos essas guerras são mais aceitas e, dessa forma, mais incisivas.
Muitos são os fatores que proporcionam a existência do preconceito, porém a música destaca o papel da mídia, como podemos observar no seguinte trecho:
"Informações erradas são sempre mostradas pela mídia
Imagens negativas são os critérios principais
Infectando rapidamente jovens mentes como bactéria
Crianças agem como o que veêm no cinema."
Essa questão foi abordada em um contexto histórico diferente, porém muito similar ao que está em curso atualmente. Os inúmeros atentados de grupos terroristas islâmicos (como o Estado Islâmico) em grandes potências têm tomado conta da mídia. Consequentemente, grande parte da população brasileira, por exemplo, tem sido invadida pela aversão à parte da cultura oriental e à religião islâmica. É claro que muitos conseguem separar e vizualizar que nem todos os muçulmanos são radicais, porém o apoio da sociedade ao combate ao terrorismo oriental realizado pelas grandes potências tem se tornado cada vez mais intenso e hegemônico. A mídia, de fato, é a grande responsável por essa circunstância, já que é principalmente por meio dela que enxergamos os acontecimentos internacionais.
O terrorismo que, por mais que não tenha um conceito amplamente aceito, consiste na “dominação pelo terror”, já ocorre a muito tempo. O número de pessoas mortas em destruições no Oriente Médio causadas por atitudes dos governos Americano e Europeu, por exemplo, é exorbitante, e ocorreu em inúmeros contextos, como nas Cruzadas, na Guerra fria e na própria Guerra do Iraque. Não obstante, atualmente muitos ataques na região ocorrem, porém estes não recebem grande atenção por parte da mídia brasileira, por exemplo, e são sempre justificados com o argumento de serem “defensivos”.
Dessa forma, o papel da mídia na formação do posicionamento do povo em relação a tais guerras é decisivo. Uma maior reflexão acerca das atitudes dessas grandes potências é suprimida, enquanto os interesses econômicos e políticos continuam a fazer parte do cenário das guerras, por mais que o terrorismo islâmico seja uma questão realmente preocupante e que deva ser combatida com urgência.
Não há uma relação maniqueísta nesse contexto, já que a questão não é apontar um vilão, mas sim procurar enxergar os preconceitos que permeiam muitos dos posicionamentos. O terrorismo não é justificável por motivos religiosos, como é expresso na ideologia do Estado Islâmico, e nem por motivos econômicos, como podemos perceber em muitas das atitudes das grandes potências, e nem em nenhuma outra circunstância.
Em suma, a música reforça o quanto é essencial se desfazer de preconceitos que inevitavelmente influenciam a nossa consciência para que todos procurem combater a guerra, o terrorismo e a discriminação independentemente da raça e da nacionalidade.